quinta-feira, 7 de maio de 2015

UM GRANDE ARTISTA MARANHENSE

NHOZINHO: O MÁXIMO NO MÍNIMO

José Neres


            Geralmente ficamos tão maravilhados com a aparente grandeza das coisas que não percebemos que há beleza também em detalhes às vezes imperceptíveis para os olhos de quem se acostumou a fixar-se apenas no que parece deslumbrante. Da mesma forma, servimos como caixa de ressonância a nomes nacional ou mundialmente conhecidos e silenciamos (ou nem mesmo conhecemos) os valores artísticos e culturais de nossa própria terra.
            Talvez por conta desse incômodo silêncio a respeito dos talentos locais, o nome de Antônio Bruno Pinto Nogueira, mais conhecido como Nhozinho, seja pouco lembrado, embora figure entre os mais originais e importantes escultores da arte brasileira do século XX.
         

Nascido em Cururupu, em 17 de maio de 1904, Nhozinho desde a infância demonstrou inclinação para as artes que exigiam atenção, perícia, precisão e habilidade.  Mal começava a entrar na adolescência, porém, começou a lutar contra uma doença degenerativa que deixaria seus membros superiores e inferiores deformados e que, posteriormente, após a amputação de ambas as pernas, iria condená-lo a locomover-se em um carrinho de madeira por ele mesmo projetado e construído, mas que atendia às suas necessidades. Para completar seu rol de provações, o artista ainda perdeu a visão do olho direito.

            Mas essas tantas dificuldades não impediram Antônio Bruno de produzir uma obra ímpar na história do artesanato brasileiro. Na verdade, parece que as extremas dificuldades serviram de ânimo para que o artista maranhense se superasse e evoluísse em seus trabalhos, deixando de ser apenas mais um artesão habilidoso e impregnando suas obras de motivos e temas da vida social e folclórica maranhense; saindo também do estaticismo das peças para imprimir ideia de movimento a suas criações.
            Dono de um estilo em que o minimalismo na escolha do tamanho das peças contrastava com a profusão de detalhes, Nhozinho se notabilizou também por registrar os tipos regionais, em uma busca de reproduzir elementos representativos de seu povo e de sua época. Observando-se atentamente as obras desse artista, muitas vezes com a necessidade de uma lente de aumento, é possível perceber a riqueza de detalhes e o desejo dele em eternizar em suas peças detalhes que passavam despercebidos. De alguma forma, guardadas as proporções e respeitados os estilos, pode-se dizer que Nhozinho registrou e esculpiu em buriti e outros suportes o dia a dia da gente de sua época, tal qual o poeta latino Catullo imortalizou em palavras o próprio cotidiano e as inquietações dos seus contemporâneos romanos. Em Roma, Catullo decidiu esculpir sua época com palavras em suas famosas nugae. Séculos depois, no Maranhão, Nhozinho optou por narrar em mínimas esculturas as grandezas esquecidas de seu povo.
            O artista faleceu em São Luís poucos dias depois de completar seu septuagésimo aniversário, no dia 23 de maio de 1974. Como a maioria dos artistas populares, Nhozinho também teve seu trabalho relegado ao olvido, mas aos poucos vem sido resgatado graças aos esforços de pesquisadores como Zelinda Lima, que muito lutou pelo reconhecimento desse artista, e de Roldão Lima, autor do livro “Vida e Arte de Nhozinho”, publicado cinco anos após o passamento do escultor.
            Mais recentemente o trabalho desse fantástico artista tem despertado o interesse de intelectuais como, por exemplo, Paulo Herkenhoff, Lélia Coelho Frota e Luciana Carvalho, todos reconhecidos nacionalmente como alguns dos mais representativos estudiosos das artes brasileiras.

      Atualmente, boa parte da produção do mestre maranhense pode ser visitada na casa-museu que leva seu nome (Rua Portugal, 185, Centro Histórico).  Sua vida e sua obra também já renderam alguns artigos, exposições e livros, como “Nhozinho: Imensas Miudezas”, que reúne trabalho de diversos pesquisadores. Mas ainda há muito a ser descoberto e (re)avaliado na obra desse artista que transformou deficiência em eficiência soube colocar o máximo de seu talento no mínimo espaço necessário à realização de seus sonhos artísticos.

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