OS FLASHES POÉTICOS DE FÉLIX ALBERTO LIMA
José Neres
Alguns grandes nomes da literatura
mundial como, por exemplo, o romano Catulo e o brasileiro Manuel de Barros nos
ensinaram que a Poesia pode estar entranhada até mesmo nas coisas mais simples
da vida, cabendo ao poeta a missão de traduzir em palavras aquilo que nem
sempre é visível para quem encara o mundo apenas com os olhos do pragmatismo. A
Poesia está em todos os lugares e às vezes grita para ser encontrada, para sair
do campo das ideias mostrar-se ao mundo em forma de palavras.
Mas nem todos têm a sensibilidade
enxergar pelas frestas do cotidiano e dali extrair a seiva necessária para
transformar breves observações em obra de arte. Felizmente, para o bem do mundo,
algumas pessoas andam por aí atentas aos sussurros da Poesia e conseguem, em
poucos versos, em poucas palavras, transformar momentos efêmeros em
eternidades. Para felicidade, nossa um dessas pessoas é o maranhense Felix
Alberto Lima, recentemente publicou seu livro “O que importa agora tanto”.
Logo ao pegar o livro, o leitor
sente logo o cuidado gráfico da Editora 7Letras, com uma diagramação leve e que
visa a valorizar o texto sem cansar os olhos de quem se propõe a ler a obra. Na
orelha, no prefácio e na contracapa, nomes consagrados como Zeca Baleiro,
Salgado Maranhão, Antônio Carlos Secchin, Domício Proença Filho e Geraldo
Carneiro saúdam o jovem autor e passam suas impressões a respeito do estro
poético desse jornalista e pesquisador que já enveredou por tantos caminhos nas
letras, mas que somente agora decidiu mostrar ao público seus versos.
Mas é preciso ir além da perigrafia
textual para que o leitor perceba que os elogios que cercam o volume não são
meras formalidades. Ao passar as páginas, pode-se perceber que os poemas
enfeixados por Felix Alberto Lima no livro, apesar de apresentarem algumas
irregularidades, primam pelo senso estético e estão eivados de qualidades
poéticas de alto nível, rendendo excelentes páginas poéticas carregadas
daquelas características fundamentais preconizadas por Ezra Pound: as imagens
poéticas (fanopeia), a ênfase na sonoridade (melopeia), sem deixar de lado os
aspectos intelectuais da poesia (logopeia).
Uma das principais características
de “O que me importa agora tanto” é a
preocupação com o uso das palavras em busca da melhor solução poética para a
ideia que tem que se transformar em verso. Desse trabalho com a linguagem
surgem páginas antológicas em que a simplicidade das palavras contrasta com a
complexidade de algumas imagens poéticas, como, por exemplo, no poema Passe Livre, (mais de sessenta anos de
idade / uma vida inteira de altruísmo / e olha ele ali ainda / na fila da
felicidade), no qual o poeta mostra ao leitor mais do que as palavras dizem e,
em uma junção do título com o corpo do poema deixa para o leitor diversos
questionamentos que só podem ser respondidos com um mergulho na realidade que
se esconde por trás das palavras.
A sensualidade é outra marca do
livro. Em poemas como Fetiche (não
sei se ela finge / nas noites de gueixa / ou nas tardes de esfinge), Voyeur (por trás da persiana / há uma
mulher de lingerie / tocando-se à paisana) e em alguns outros, o jogo de
esconder é a principal arma do poeta para descrever cenas que podem despertar a
imaginação do leitor sem necessidade de apelar para a descrição explícita da
beleza da cena.
Muitas outras temáticas podem ser
encontradas nesse livro de Félix Alberto Lima, que, como afirmou Salgado
Maranhão no prefácio da obra, age como uma espécie de “flâneur da vida banal”,
a passear poeticamente por diversos recantos e retirando de acontecimentos aparentemente
comuns a matéria-prima para a construção dos poemas que compõem o livro. No
meio de abordagens sociais, temas existenciais e de críticas ao cotidiano, o
poeta ainda encontrou espaço para diversas incursões na metalinguagem,
explicando que escreve “como / quem caminha / pelo tempo / no centro da
cidade”, e ainda por cima explica um estilo em que: “sem par / não faço /
poesia / com a / mão / apenas / fricção.”
Sem dúvida, o já aclamado
pesquisador e jornalista Félix Alberto Lima entra no mundo da Poesia pela porta
da frente, sabendo que no mundo das artes, tudo importa, e tudo pode ser
traduzido em versos.