sábado, 15 de março de 2014

UMA VAGA PARA ALUÍSIO

            José Neres
(Professor de Literatura)

Imagem retirada da reportagem da Mirante sobre o assunto

             Vários amigos me interpelaram sobre o que eu acho do fato de estarem transformando o
Casarão onde morou Aluísio Azevedo em um estacionamento rotativo. Fico triste, mas não surpreso...
Imagem retirada da reportagem da Mirante sobre o assunto
            É visível o descaso com que foi tratada nossa cidade ao longo dos anos. Vejamos: Os bustos dos escritores foram  e hoje se encontram recolhidos no Museu, sem previsão de volta; a escadaria da rua Humberto de Campos transformou-se em um mictório público; as fontes  são quase propriedade  particular de pedintes e/ou desocupados; nossas praias hoje são receptáculos de dejetos e de esgoto a céu aberto; a Praça Valdelino Cécio foi transformada em um reduto de uso e comercialização de drogas; o busto de Odorico Mendes foi roubado e possivelmente derretido para ter seu material vendido em um ferro-velho qualquer; as ruas são feudos de inescrupulosos guardadores de carro;  o calçamento da cidade é uma grande armadilha para transeuntes de qualquer idade; os casarões históricos estão entregues à própria sorte e às intempéries da natureza; nossas livrarias fecham as portas por falta de consumidores para um produto tido como luxo chamado livro; os becos são lugares perfeitos para assaltos e estupros, etc, etc, etc.
            Dessa forma jamais acreditei que o casarão de Aluísio fosse escapar a essa insanidade que ajuda destruir o que passamos séculos para conquistar. E tudo isso aconteceu e acontece bem diante de nossos olhos...
            Em qualquer lugar do mundo dito civilizado aquela casa seria um museu, um centro cultural, onde a memória e a obra de um dos maiores escritores do Brasil seriam preservadas, apreciadas e estudadas, mas isso não acontece e possivelmente nunca acontecerá.
Chegamos finalmente ao tempo em que o progresso atropela o passado e em que ter uma vaga para estacionar o carro é muito mais importante que conhecer um pouco de nós mesmos de nosso passado.

O pior é que em breve tudo isso será esquecido e nós mesmos, que hoje estamos tão revoltados com esse fato, sorridentes, pagaremos para deixar nosso veículo lá, pois para muita gente, um risco no carro dói muito mais que um arranhão na história.