terça-feira, 13 de maio de 2014

LETRAS VIVAS: JOSÉ CHAGAS
José Neres


            As letras maranhenses contam com alguns monumentos literários que poderiam ser mais divulgados e que têm qualidades literárias suficientes para serem admirados em qualquer lugar do Brasil ou mesmo do exterior. Infelizmente, a falta de uma divulgação mais efetiva, de uma distribuição profissional das obras aqui editadas e de uma crítica especializada que leia e comente os livros com base em critérios mais teóricos que emocionais faz com que talentosos nomes que poderiam ser destacados nacionalmente acabem ficando restritos às nossas terras ou que não sejam conhecidos nem mesmo no rincão natal.
            Escritores como João Mohana, Bandeira Tribuzi, Ribamar Galiza, Fernando Moreira, Arlete Nogueira da Cruz, Aurora da Graça, Luís Augusto Cassas, José Ewerton Neto, Nauro Machado e Waldomiro Viana entre outros, poderiam ter seus trabalhos comercializados em âmbito nacional por grandes editoras, com suas produções sendo discutidas em escolas e academias, mostrando ao mundo valores que às vezes são esquecidos. Outro nome que mereceria um espaço maior para seus trabalhos é o poeta e cronista José Chagas, um dos mais talentosos e inventivos escritores da metade para o final do século XX e início do XXI.
            Nascido na Paraíba, mas radicado no Maranhão desde tenras datas, José Francisco das Chagas, ou mais simplesmente José Chagas, é o tipo de escritor que encanta e desorienta o leitor das primeiras às últimas páginas de seus livros. Mestre na arte de transformar meras palavras em obras de arte, o Poeta consegue transformar aparentes banalidades em versos de grande intensidade poética e carregados de metáforas que estão a serviço não apenas de uma estrutura formal, mas sim de um conteúdo que se desenvolve ao longo das páginas de seus diversos livros.
            José Chagas emprega em seus poemas as mais diversas formas literárias, desde os versos minuciosamente metrificados até aqueles em que a criatividade cede lugar à rigidez estrutural. Não importando a técnica utilizada, os poemas do autor de Os Telhados trazem sempre um apurado senso estético e uma criticidade que vai além daquilo que pode ser esperado em poemas que nem sempre buscam destrinçar a carga social de um povo ou de uma época.
            Muitos são os temas desenvolvidos por Chagas em seus versos, entre eles estão os relativos à infância, ao tempo, à cidade que o adotou como filho, à memória e às mazelas sociais que assolam o mundo. Diante de um quadro em que simples sussurros poderiam não surtir os efeitos desejados, o poeta solta a voz em versos altissonantes que muitas vezes fundem lamentos a gritos de revolta. O poeta parece ter consciência de que seus versos não são palavras soltas ao vento e que se perderão nos desvãos do tempo e da memória curta de um povo acostumado a ser violentado em seus direitos e permanecer calado diante das atrocidades de que é vítima. Na obra de José Chagas, as palavras são flores, mas também são armas.
            O silêncio social não faz parte do estro literário desse poeta e cronista que devotou grande parte de sua vida a observar e registrar os flashes de um cotidiano mutante. Seja em prosa, seja em versos, a literatura chaguiana é essencialmente voltada para o ser humano, buscando despertar nos leitores o interesse pelas coisas e pelos fatos mínimos, todavia vitais para as relações do homem com ele mesmo, com os outros e com os demais elementos de seu entorno. O grande interesse do Poeta não está no visível das mudanças circundantes, mas sim no inefável daquilo que parece banal para muitos e que passa despercebido diante dos olhos de quem não consegue enxergar  além das aparências.
            De certa forma, os poemas e as crônicas de José Chagas funcionam como uma espécie de lupa para ampliar detalhes e deixar mais visível um mundo que muitos fazem questão de não ver, mas que jamais deveria ser esquecido, pois é nele que vivemos e é dele que advêm todas as nossas dores, alegrias e angústia. E o mundo, filtrado pelo olhar e pelas palavras de um Poeta do nível de José Chagas, pode ser aterrorizantemente belo...   
(O Estado do Maranhão, 11 de maio de 2014)