quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

LIVROS A MÃO CHEIA


TRÊS BOAS ESTREIAS
José Neres


            Em uma época em que o leitor de livros impressos começa a ser visto como um ser estranho e até mesmo anacrônico, sempre é bom saber que ainda há pessoas dedicando-se à produção de textos literários de bom nível e que se arriscam, mesmo contra a lógica mercadológica, a investir na produção e na divulgação de livros.
            Infelizmente, quase sempre o lançamento de um livro se transforma em um primeiro passo para o esquecimento de sua existência. Em nossa sociedade contemporânea, falta quem comente os novos autores e lhes dê estímulo para continuar na constante luta com versos e parágrafos. Como os trabalhos intelectuais publicados quase sempre caem no ostracismo, sem repercussão nem mesmo nos círculos de amizade, alguns escritores simplesmente desistem de publicar seus livros, deixando as gavetas cheias de originais, alguns de boa qualidade.
            Registremos aqui os trabalhos de três escritores estreantes de nossa terra. Seus livros foram publicados entre a metade de 2011 e o início de 2012, sendo, portanto, bastante recentes e quase desconhecidos da maioria do público leitor.
            Comecemos com a escritora Eva Maria Nunes Chatel, que publicou concomitantemente a novela “De Volta” e o livro de contos “Substantivo Próprio: Fábulas Humanas”.  No primeiro título, a autora faz um périplo pelas inusitadas visões de uma anciã em coma. Narrado em primeira pessoa pela protagonista, o livro não traz apenas uma história em vários breves capítulos, mas sim abre espaço para a reflexão do leitor a respeito da própria existência e da fragilidade da natureza humana. No outro livro, Eva Chatel, em contos curtos, metaforiza as mazelas humanas. Homens, mulheres, adultos e crianças são amalgamados às características de animais dentro de uma sociedade pretensamente civilizada, mas que nega às pessoas as condições de viver com dignidade.



            Saindo do campo da prosa de ficção e mergulhando na poesia, Carvalho Junior trouxe à luz o seu “Mulheres de Carvalho”, no qual o autor brinca de modo sério com as palavras, produzindo imagens poéticas de excelente qualidade. Suas temáticas são geralmente líricas, mas sem decair na pieguice sentimentalista tão comum nos poetas estreantes.  Com bom humor, Carvalho Junior trabalha temas que vão do sentimento amoroso não correspondido ao preconceito racial, passando por poemas telúricos em homenagem a sua cidade natal, um erotismo sutil e incursões pela metalinguagem. Tudo temperado com intenso trabalho com as palavras, a fim de tirar delas o máximo dos efeitos poéticos.
            Finalmente temos “Palavras ao Vento”, livro de Lindalva Barros, que com esse título estreia no mundo da poesia. Explorando a espacialização das palavras e os vazios entre os versos, a escritora esculpe em seus versos as antigas angústias do ser humano, com a solidão, a inexorável passagem do tempo e a inefabilidade da dor do existir e repetitiva rotina imposta pela vida. Seus versos são curtos, mas vigorosos, sem muita preocupação com a métrica ou com os esquemas rímicos tradicionais, porém carregados da essência humana, o que torna cada poema mais próximo ao leitor, já que a principal fonte de inspiração da autora é a complexa simplicidade da vida humana.
            Eva Chatel, Carvalho Junior e Lindalva Barros são apenas alguns dos nomes de autores que publicam seus livros e que transformam palavras em obras de arte. Felizmente não são nomes isolados em nossa terra. Há muitas outras pessoas produzindo bons textos e à espera de leitores que transformem páginas escritas em pedaços compartilhados da experiência humana.

CONTATO COM OS AUTORES E POSSÍVEL 
AQUISIÇÃO DO LIVRO

Os Livros de Eva Chatel podem ser adquiridos no seguinte no site da editora All Print

O livro de Carvalho Júnior pode ser adquirido pelo site da Café e Lápis Editora ou em contato com o próprio autor por seu blog

O livro de Lindalva Barros pode ser adquirido com a autora pelo seu e-mail ou por seu blog

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Tom Jobim

Esse poema foi  publicado há mais de uma década, mas acredito que ainda tem muito a dizer sobre esse compositor e músico fantástico que nos deixou verdadeiras obras de arte.


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

LIVRO DIGITAL GRATUITO




Caros amigos, estamos disponibilizando neste momento este livro sobre a vida e a obra de Adelino Fontoura, patrono da cadeira nº 1 da ABL, mas quase desconhecido do grande público. Além de um estudo sobre o poeta, nesse livro há também uma coletânea de poemas do escritor falecido precocemente.
Este livro é parte do projeto Sistema Literário Maranhense: Hipermídia e Hipertexto e pode ser encontrado também na versão impressa em bibliotecas, com a finalidade de divulgar as letras maranhenses.

AUTORES: José Neres, Jheysse Lima Coelho e Viviane Ferreira
NÚMERO DE PÁGINAS: 83


Quem quiser baixar o livro em PDF, clique AQUI.

Ou visualizar o trabalho abaixo.
Desejamos uma boa leitura a todos e bons momentos com a leitura desse poeta esquecido



segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

CAOS NO TRÂNSITO


ARMADURAS MODERNAS
José Neres


Aproveite e veja também o desenho animado que é citado no texto





            Ao folhear livros de História ou ao assistir a filmes sobre a Idade Média e sobre as arenas romanas, é possível que perceber que os homens que iam para as batalhas costumavam resguardar os corpos da melhor maneira possível. Armaduras, elmos, escudos, protetores de tórax e todos os apetrechos possíveis para proteger-se dos impactos com os adversários eram utilizados pelos guerreiros. A intenção maior era evitar que durante os combates os ferimentos causados pelas refregas ceifassem a vida dos lutadores. Ao mesmo tempo, toda essa proteção, juntamente com os equipamentos de ataques, era usada também para causar danos aos adversários.
            Hoje, muitos séculos após as Cruzadas e as batalhas pela vida e pela honra nas arenas, o homem continua na busca de algo que possa evitar seus ferimentos, mesmo que seja a custa de sérias lesões ou até mesmo da vida de outras pessoas. As armaduras tradicionais foram abandonadas e agora fazem parte do acervo de museus ou servem como parte da indumentária de filmes de época. Em seu lugar, apareceu algo bem mais moderno que teria como principal utilidade ajudar no deslocamento de pessoas e de cargas, mas que pode servir ao mesmo tempo como instrumento de defesa e de ataque, podendo evitar que o guerreiro contemporâneo tenha seu corpo estraçalhado, mas que pode inutilizar parcial ou permanentemente alguma pessoa desavisada que tenha o azar ou a imprudência de cruzar com o proprietário dessa armadura moderna em um momento de desatenção, imperícia ou de arrogância.  Essa nova arma de combate utilizada tanto por pessoas sérias e responsáveis quanto por boçais que não dão o maior valor à vida alheia é chamada veículo motorizado, podendo atender por diversos nomes: moto, carro, caminhão, ônibus...
            Os noticiários mais recentes não deixam dúvida de que a cada dia que passa o homem vem utilizando-se do carro como uma armadura protetora e como instrumento de combate em uma guerra urbana em que quase todos saem derrotados ou pelo menos lamentando a perda de um ente querido.
            Ao entrar em um carro, o cidadão comum parece ser tomando pela síndrome do Sr. Weeler, personagem criado por Walt Disney e representado pelo Pateta, que, ao ligar seu automóvel assume a postura de um monstro do trânsito, desrespeitando faixas, sinais e todas as regras da civilidade. Porém ao se ver novamente na condição de pedrestre, reclama da falta de educação dos demais condutores.
            Ao volante de um carro possante, o bom garoto do bairro pode ser convertido em um demônio irresponsável que faz zig-zag, entra pela contramão, vocifera contra quem cumpre a lei. O pai de família, ao ligar o carro, às vezes se transforma em um lunático que acredita ser sua pressa maior que a dos demais e põe em risco não somente a segurança de sua família, mas também a de todos os que estão a sua volta. O homem pequenino que mal consegue sustentar o peso do próprio corpo, quando está sentado diante da direção de seu carro sente-se como um gigante de músculos de aço capaz de tirar de sua frente todos aqueles que atravancam seu caminho. A delicada mulher, de sorriso encantador de modos educados, ao soltar o freio de mão e entrar no fluxo das avenidas, ou mesmo antes disso, sente-se senhora de todos os poderes do mundo e crê que pode ganhar tempo e encurtar distâncias à custa do pavor inoculado nos olho dos pedestres e dos demais condutores. Isso sem falar nas pessoas que jamais apresentaram uma capa de civilidade e aproveitam o carro para dar vazão a seus instintos criminosos.
            Os mortais gladiadores modernos vestem a armadura de metal revestida com a blindagem da impunidade ou pelo menos usam o capacete da intolerância e do descaso e fazem de cada rua uma arena, com corpos espalhados no asfalto ou na areia. Quando têm suas armaduras amassadas, confiscadas ou destruídas, compram uma nova e continuam matando sob o manto protetor das frágeis leis.