domingo, 18 de dezembro de 2011


LER PELO PRAZER DE LER
José Neres
(O Estado do Maranhão, 18/12/2011)


Fonte da imagem: internet
            Ler é a chave para a aquisição de todo o conhecimento humano acumulado desde tempos imemoriais. Claro que além da leitura há diversas outras forma de aprender, no entanto ela é capaz de facilitar todo esse processo e de tornar menos tortuosos caminhos que nem sempre gostaríamos de trilhar.
            Mesmo em um momento histórico de constantes incertezas e de fluidez de relações e de costumes, o conhecimento não técnico e a experiência leitora parece estar perdendo terreno para atividades que tragam um retorno pecuniário, de preferência a curto ou, no máximo, a médio prazo. Dessa forma, foi gestada a ideia de que ler é perder tempo e que a nada leva.
            Ironicamente, em uma sociedade que valoriza a velocidade e a multiplicidade de eventos concomitantes, as ferramentas tecnologicamente mais avançadas exigem que o usuário tenha que ler, ler e ler. Porém esse tipo de leitura que busca informações, dados e meios de agilizar o tempo de resposta e de otimizar os processos de produção está inserido mais no âmbito da mecanização das relações que na saborosa busca do saber sem compromisso com os utilitarismos da vida contemporânea.
            Assim como os alimentos consumidos no dia a dia servem para nutrir nosso organismo, fornecendo-nos energia para as lides cotidianas, a leitura pode ser metaforicamente vista como uma das fontes de energia que manterá viva em cada ser humano a chama do desejo de aprender e de compartilhar experiências com o mundo que nos rodeia, fazendo com que nosso cérebro tenha seu estoque de informações constantemente renovado.
            Mas ler não é apenas correr os olhos por uma folha de papel ou pela tela de um computador. Ler vai muito além do ato mecânico de decodificar, palavras, frases e parágrafos. Há quem acredite também que a qualidade da leitura esteja diretamente relacionada com a quantidade de páginas lidas em determinado intervalo de tempo. Na verdade, o processo de aproveitamento do que foi lido nem sempre obedece à lógica preconizada pela matemática. Então, dessa forma, alguém pode ler pouco e ter um excelente aproveitamento das páginas lidas. Por outro lado, uma pessoa que tenha devorado com os olhos quilômetros de páginas talvez não tenha retido informações suficientes para dizer que realmente leu algo.
            No meio de uma selva oscura em que a quantidade tem se tornado bem mais requisitada que a qualidade, o prazer de ler parecer ter ficado também em segundo plano. Lê-se para uma prova. Lê-se para buscar uma informação urgente. Lê-se para lutar por uma promoção no emprego, para montar um aparelho eletrônico, para descobrir onde mora alguém... Todos os tipos de leitura são válidos e merecem os devidos aplausos. Mas a modalidade de leitura mais interessante é aquela descompromissada, livre de obrigações, sem interesse de produzir uma resenha ou de conquistar uma nota...
            Em pé, deitado, sentado ou mesmo andando, o mais eficiente tipo de leitura é aquele que se transforma em prazer a cada linha devorada e que é capaz de levar o leitor a sair de sua realidade e conhecer novos ambientes, nova idéias e a conviver o inesperado, com o inefável de novas descobertas. Quando a leitura se torna uma fonte de prazer constante e inesgotável, a pessoa descobre que ler pela simples vontade de ler é uma forma de viver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário