segunda-feira, 7 de novembro de 2011

WELITON CARVALHO


A Geometria do Lúdico
José Neres


            Dizem que no Maranhão todo mundo se considera, pelo menos em alguns momentos, poeta. Anualmente, inúmeras obras são escritas e diversas delas conseguem sair da gaveta e alçam à condição de livro impresso. São poucas, porém, as que conseguem atingir os status de trabalho de boa ou pelo menos razoável qualidade literária. Há casos em que apenas o autor e seus familiares conseguem ver alguma tessitura poética naquelas páginas encadernadas...
            Há casos, contudo, em que o autor realmente merece ser chamado de poeta e consegue transpor para o papel suas ideias, seus sentimentos e suas impressões sobre o mundo em forma de versos bem elaborados e com boas soluções artísticas, fazendo com que o leitor mais exigente perceba que naquela página não há apenas um amontoado de palavras, mas sim um caminho sedimentado para as emoções poéticas.
            Entre esses escritores que costumam sair da mera construção em série de poemas e conseguem atingir a esfera da poesia está Weliton Carvalho, autor de “Travessia sem Fim”, “Descobrimento do Explícito”, “Sustos do Silêncio”, “Tempo em Conserva” e “Geometria o Lúdico”, um alentado volume com mais de 600 páginas e que reúne, além dos três últimos livros acima citados, trazendo ainda outros trabalhos até então inéditos: “A Poesia Sorrindo”, “Sinfonia da Solidão” e “Escandalosa e Lírica”.
            Dono de excelente dicção poética, Weliton Carvalho é capaz de transitar com a mesma desenvoltura por temas diversos como engajamento social, erotismo, lirismo e metalinguagem, por exemplo. No entanto, essa diversidade de temas não faz com que o poeta pareça superficial em suas abordagens, pois o trabalho poético-linguístico por ele perpetrado vai além de forçar as palavras em um contexto frasal. Weliton Carvalho em seus versos procura sempre conter a verbosidade sem comprometer a construção das imagens poéticas e sem apelar para construções esdrúxulas que apenas sirvam para chamar chocar o leitor, mas sem conteúdo aproveitável.
            Por trazer um apanhado geral da produção do autor em poesia até 2008, “Geometria do Lúdico” (Sotaque Norte: 670 páginas) é o livro mais recomendado para quem deseje entrar em contato com o conjunto da obra de Weliton Carvalho. Nesse livro, o leitor poderá encontrar desde os versos de caráter mais social de alguns poemas até a explosão de sensualidade e erotismo de um livro inteiro dedicado à relação física-amorosa-carnal entre dos seres que ora se mistura, ora se separam, mas que sempre se completam.
            Mas o ponto alto do livro é “Poesia Sorrindo”, obra na qual o poeta maranhense pasticha e ao mesmo tempo presta grande homenagem a Mário Quintana. Em dezenas de versos sintéticos, Carvalho cria flashes da realidade interior e/ou exterior do ser humano, discutindo de forma bem humorada situações aparentemente comuns, mas que poderiam passar despercebidas por olhos menos atentos. Em versos curtos e carregados de ironia e de suavidade, o poeta trabalha o cotidiano. O celular, por exemplo, hoje um amigo inseparável de muitas pessoas, é redefinido como sendo “um chato de algibeira” (p. 331). Atento a tudo o que o rodeia, no poema Pequena Tragédia, o poeta chama a atenção para algo que se repete dia após dia: “O professor recitando Gonçalves Dias/ e os alunos preocupados com a provinha de literatura” (p. 347). Às vezes, o tom de provocação norteia o poema, como ocorre em Fogo Amigo: “Os homens não reparariam na celulite não fossem tuas amigas” (p. 362).
            De modo geral, se o livro “Geometria do Lúdico” pode até assustar os pseudo-leitores pelo número de páginas, porém bastará o verdadeiro amante da boa poesia correr os olhos pelas primeiras páginas ou mesmo abrir o livro em qualquer poema para se sentir acolhido pela essência dos versos de um homem que realmente pode ser chamado de poeta.

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