quinta-feira, 12 de maio de 2011

CARLOS DE LIMA

CARLOS DE LIMA: UM ADEUS HISTÓRICO
José Neres

O Estado do Maranhão, 11 de maio de 2011)

Fonte da imagem: Site da AML
  Logo após o brilho das festividades do dia das mães, a semana começou toldada por uma nuvem opaca que trazia uma péssima notícia: o pesquisador, folclorista, escritor e historiador Carlos Orlando Rodrigues de Lima, mais conhecido no mundo acadêmico e literário como Carlos de Lima, aos noventa e um anos, colocou o ponto final na grande enciclopédia de conhecimento que foi sua própria vida.
Homem visceralmente envolvido com as artes e com a cultura em geral, fino e gentil no trato com seus leitores, amigos e admiradores e, principalmente, consciente do papel do intelectual que atua longe dos holofotes dos grandes centros irradiadores de cultura, Carlos de Lima fez muito mais que viver suas nove décadas, ele aproveitou todos os seus momentos e, durante quase um século de existência, pôs no papel suas ideia, suas pesquisas e sua criatividade, para que as gerações futuras pudessem ter outras fontes de sustentação, além das já tradicionais, na busca da compreensão dos fatos do passado e do entendimento do presente.
            Obstinado pelas pesquisas e pela busca da perfeição, Carlos de Lima tornou-se um dos autores mais produtivos da historiografia maranhense. Em seus livros, os fatos históricos dividem espaço com as interpretações críticas e com as percepções do próprio autor, o que assustou os demais historiadores e levantou inúmeros questionamentos acerca de qual seria o método utilizado para chegar às conclusões advindas de inúmeras leituras e de horas e mais horas de pesquisas a algumas fontes que só mesmo a paciência de um garimpeiro de detalhes iria localizar.
            Possivelmente, o grande legado da passagem de Carlos de Lima pelas veredas da vida sejam seus livros sobre a história do Maranhão. Inicialmente em volume único, com um estilo rápido e sem tempo e espaço para aprofundar os momentos destacados, o livro foi totalmente reformulado, ampliado e depois publicado pela Editora do Instituto Geia, em três volumes, cada um cobrindo um momento específico de nossa história, a saber, Colônia, Monarquia e República. Também merece destaque o livro “Paixão e Morte da Cidade de Alcântara”, que traça um percurso histórico da famosa cidade maranhense.
            As efemérides maranhenses também tinham espaço na vasta produção de Carlos de Lima. Com o intuito de informar e divertir ao mesmo tempo, ele dedicou parte de seus trabalhos a algumas curiosidades que não são valorizadas pela historiografia. Desse modo, em seu livro “Caminhos de São Luís”, o leitor faz uma viagem por ruas, praças e becos da cidade, conhecendo a origem dos nomes e mergulhando em detalhes aparentemente banais, mas que podem contribuir tanto para um bate-papo nos bares e nas esquinas, como também podem oferecer subsídios para o início outras pesquisas acerca da Cidade.
            O apego às pesquisas históricas acabou eclipsando a vertente literária de Carlos de Lima. Ele, contudo, também se dedicou à prosa e aos versos, publicando contos, crônicas e cordéis, nos quais fazia desfilar sua verve crítica e sua criatividade.
            No dia nove de maio de 2011, Carlos de Lima, depois de cumprir com seus deveres de homem de letras, fechou o último tomo de sua vasta biblioteca e passou à, definitivamente, condição de importante capítulo da história do Estado que ele tanto amou e estudou. 

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