domingo, 28 de fevereiro de 2010

REPRODUÇÃO DE MATÉRIA IMPORTANTE




O ESTADO DO MARANHÃO de hoje, último dia de fevereiro de 2010, chega à bancas com uma excelente notícia: a cada duas semanas haverá um texto especial sobre a LITERATURA MARANHENSE. Não há como não ficar feliz com uma novidade dessas. Esperamos que o plano seja cumprido e que os pesquisadores da nossas letras tenham mais uma fonte de consulta.

Reproduzo aqui, com os devidos créditos de autoria, o artigo da jornalista CARLA MELO, que contou com o apoio e a consultoria do sempre amante das letras JOMAR MORAES.


OBS: Não deixa de ser motivo de orgulho para mim ter um de meus artigos citado na matéria.

Grupo Maranhense e o surgimento da Atenas

Carla Melo


(FONTE: Jornal O Estado do Maranhão, 28 de janeio de 2010 - Caderno Altenativo, página 1)


Eles foram considerados românticos de primeira hora. Viveram em uma época na qual a literatura maranhense começava a ganhar destaque e respeito dentro e fora das fronteiras estaduais. Batizados tempos depois como Grupo Maranhense, é deles o mérito de inscrever a alcunha de Maranhão-Atenas no Brasil e no mundo.

Sobre a importância desses vultos do romantismo maranhense na literatura brasileira, o crítico José Veríssimo, escreve em seu famoso “História da Literatura Brasileira”, o capítulo intitulado “Gonçalves Dias e o Grupo Maranhense”. Nele, o autor fala sobre a obra de nomes como Gonçalves Dias, João Lisboa, Odorico Mendes, Sotero dos Reis e Gomes de Sousa, entre outros que compuseram o chamado Grupo Maranhense.

Principal representante desse momento literário, o poeta Gonçalves Dias é assim descrito por José Verísimo: “Nenhum poeta brasileiro, em prosa ou verso, teve em grau igual ao de Gonçalves Dias o sentimento do nosso índio e do que lhe constituía a feição própria. Todos os nossos indianistas, maiores e menores, sem excetuar o próprio Alencar, que é quem em tal sentimento mais se aproxima de Gonçalves Dias, o foram antes de estudo e propósito que de vocação. Daí a sua inferioridade relativamente ao poeta dos ‘Timbiras’ e os despropósitos em que caíram. E o conceito pode ser generalizado a toda a obra lírica de Gonçalves Dias”.

O professor Alfredo Bosi, em seu livro “História concisa da Literatura Brasileira” explica as diferenças entre Dias e seus contemporâneos. Para ele, o maranhense traz em sua obra “muito de português no trato da língua e nas cadências garretianas do lirismo, ao contrário de seus contemporâneos, sobre os quais pesava a influência francesa”. Isto talvez se explique pelo fato de o poeta ser filho de português e ter estudado Leis em Coimbra, na qual manteve contato com a poesia romântico-nacionalista de Garret e Herculano, poetas que o influenciariam durante sua trajetória.

Românticos - De acordo com o professor e pesquisador Jomar Moraes, o Grupo Maranhense manifesta-se entre os anos de 1840 e 1880. “Eles não se consideravam um grupo, esta denominação veio depois. Não tinham uma produção com características idênticas, mas diversas entre si. Nem sequer eram todos amigos. Na verdade, o que os unia era o fato de terem nascido todos aqui e serem contemporâneos”, salienta Jomar Moraes.

Por não se verem como grupo, não há como quantificar os autores que, por sua obra, se incluem no chamado Grupo Maranhense. Além de Gonçalves Dias, destaca-se Odorico Mendes, considerado como “último árcade” e “primeiro romântico”. Mestre nas línguas clássicas grega e romana, ele foi, ao lado de Gonçalves de Magalhães, precursor do romantismo no Norte do Brasil, com a publicação de seu “Hino à Tarde”, escrito em 1832. “A partir daí, o Maranhão, que era aparentemente uma terra sáfara para as letras começa a produzir uma boa quantidade de escritores de grande talento, chegando sua capital a receber o honroso epíteto de Atenas Brasileira, em homenagem à quantidade e à diversidade de valores intelectuais surgidos em tão pouco tempo”, diz o especialista em Literatura Brasileira pela PUC-MG, José Neres, em texto publicado em 1998, em O Estado do Maranhão.

Além desse, Joaquim Serra, Sousândrade, Maria Firmina dos Reis, Trajano Galvão, Gentil Braga, Henriques Leal, estão no rol de intelectuais do século XIX. Neres cita ainda José Cândido de Morais (jornalista), Joaquim Gomes de Sousa (um dos maiores matemáticos do Brasil); Belarmino de Matos (tipógrafo) “e tantos outros intelectuais, que não se limitavam à arte literária, mas sim compunham um verdadeiro quadro cultural de múltipla abrangência”, observa.

Saudosismos à parte, o Grupo Maranhense é ainda inspiração para muitos escritores, maranhenses ou não. “Considero Gonçalves Dias o maior poeta brasileiro. Sem exageros. Acho que é necessário conhecer mais sua obra, tal qual a de outros grandes vultos da literatura nacional”, diz Jomar Moraes.

O escritor e político José Sarney, em discurso proferido por ocasião do centenário da Academia Maranhense de Letras (AML), destaca a importância literária do Grupo Maranhense. “Fala-se sempre que a Academia foi fundada para retirar o Maranhão da angústia que se seguiu ao desaparecimento do chamado Grupo Maranhense, que fizera a glória do nosso passado”. Mas, ressalta também, no mesmo discurso, que o Maranhão não pode viver de glorificar apenas o passado, pois sempre foi celeiro de grandes escritores.

Saiba mais
GONÇALVES DIAS, Antônio (1823-1864) - Poeta, teatrólogo, etnólogo, porém, sobretudo e principalmente poeta, com justiça cognominado o Poeta da Raça. Sua obra poética, publicada nos livros Primeiros Cantos (1864), Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão (1848) e Últimos Cantos (1951), e Os Timbiras (1857), foi reunida no volume Cantos, cuja primeira edição é de 1860. Após a morte do poeta, Antonio Henriques Leal publicou as Obras Póstumas de A. Gonçalves Dias, em 6 volumes. Todos esses títulos, porque de edição original muito antigas, são hoje raros e de consulta problemática. Edições recomendável pelo alto nível de selecionador, José Carlos Garbuglio, a intitulada Melhores poemas de Gonçalves Dias, da Global Editora.

LISBOA, João Francisco (1812-1863) – Jornalista, historiador e um dos principais fundadores da prosa portuguesa e viés brasileiro Tudo quanto de mais expressivo produziu, foi reunido postumamente por iniciativa da Antônio Henriques Leal e Luís Carlos Pereira de Castro nos 4 volumes das obras de João Francisco Lisboa, 1864/65.

MENDES, Manuel Odorico (1799-1864) – jornalista, poeta e, sobretudo, produtor de grande importância. Autor do grande feito de traduzir para o português os poemas do Homero, de Virgilio, além de outros diversos autores de nomeada, a exemplo de Voltaire. Os poemas homéricos traduzidos por Odorico, acham-se em boas edições de Ediouro.

DICA: Boas fontes de referência acerca dos autores citados são os livros de história da literatura brasileira. Também os três autores contam com estudos biográficos, entre outras obras, no Panteon maranhense, de Antonio Henriques Leal.

Jomar Moraes
Consultoria para o Alternativo

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