quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

HORA DE ESCREVER


A FÓRMULA DA ESCRITA
José Neres
(O Estado do Maranhão, 02/12/2009)


É inimaginável que uma pessoa bem magra, ou beirando a obesidade mórbida, chegue para um instrutor de academia e exija que, antes de duas semanas, seu corpo esteja musculoso, modelado e pronto para uma exposição sem ou truques e recurso do photoshop. Da mesma forma, soa estranho um sujeito declaradamente sedentário contratar um campeão de corrida e pensar que em poucas semanas estará apto para sair de uma maratona com o prêmio de primeiro lugar. É também impossível alguém que nunca tenha entrado em uma piscina ou no mar tentar, com alguns escassos e irregulares momentos de treino, considerar-se apto a competir em uma piscina olímpica com adversários de alto nível e sair vitorioso... Então, por que será que algumas pessoas pensam que podem aprender a escrever de maneira proficiente em pouquíssimos dias e sem dedicar-se exaustivamente à prática da escrita?

Principalmente nos períodos que antecedem os concursos e vestibulares, milhares de candidatos a uma vaga nas universidades ou em cargos públicos que exigem domínio da produção textual invadem os cursos preparatórios e exigem que os professores de redação façam o milagre de transformar pessoas textualmente inativas em verdadeiros campeões da escrita.

Tais pessoas possivelmente acreditam que produzir bons textos não depende de esforço, de abnegação, de inúmeras horas de treino e de uma luta constante com as palavras. Quase sempre, quem acredita no milagre da escrita sem esforço detesta ser contrariado e não admite seus erros. Por essa razão, quem cultiva esse tipo de pensamento não aprende que cada folha amassada não é testemunha de uma derrota, mas sim a oportunidade de rever a tessitura da própria escrita e de aprender com as próprias falhas.

Não se apegar aos próprios textos como algo sagrado é uma das formas de refletir sobre a própria estrutura textual. Jogar no cesto de lixo ou na lixeira eletrônica algo que consumiu horas, dias, semanas ou meses, não deve ser visto como um ato de covardia, mas sim como um gesto de coragem diante da certeza de que tudo o que está escrito pode ser melhorado.

Geralmente os apressadinhos da escrita pedem conselho sobre o que devem fazer para melhorar seus textos. Mas não aceitam nenhuma das ideias que demandem disponibilidade temporal. Querem tudo para ontem e não estão interessadas em sugestões que incluam leitura atenta dos bons autores, consulta constante a dicionários, pesquisas sobre o assunto a ser tratado e, principalmente, uma grande dose de paciência. Decepcionadas com os conselhos recebidos, que fogem muito de suas expectativas, os esperançosos de um milagre passam a pedir dicas e macetes que sirvam para a “escrever qualquer texto”.

O interessante é que essas pessoas se zangam quando alguém diz que não existe uma fórmula mágica para transformar inércia, preguiça e a mera vontade de escrever em textos de boa qualidade. Mas quem a inventar será adorado por uma multidão eternamente agradecida.

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