sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

COMENTÁRIO


MERAS COMPARAÇÕES

José Neres

Algo que sempre me impressionou em nossa imprensa é o caderno de esportes. Ma-ra-vi-lho-so! Incrível como nossos jornais acompanham os eventos esportivos... Dependendo do horário em que termina a competição ou premiação esportiva, na edição seguinte do periódico, temos, estampados, em letras garrafais, os resultados, os nomes dos atletas mais destacados e fotos, muitas fotos... A equipe de esportes parece estar sempre preparada para os chamados furos de reportagem. Basta um atleta especular que mudará de clube e lá está a notícia em destaque, geralmente precedida de uma chamada na primeira página. Basta um craque da moda se pronunciar sobre determinado assunto que logo tal comentário é debatido, dissecado, esmiuçado por especialistas no assunto. Tudo em uma velocidade impressionante! Realmente, os cadernos de esporte mostram em suas páginas e entrelinhas toda a velocidade que a imprensa tem quando há um interesse em divulgar as notícias.

Por outro lado, sempre me causou tristeza e estranheza lentidão dos mesmos jornais quando se trata de comentar os eventos culturais locais. Excetuando-se os casos raros (raríssimos, na verdade), os periódicos sofrem de carência crônica de papel e de jornalistas para a cobertura de peças teatrais, lançamentos de livros, resenhas sobre as obras publicadas, divulgação de músicas e filmes que não façam parte do circuito das grandes distribuidoras, palestras, recitais... As páginas tidas como destinadas à cultura costumam ser descartadas aos primeiros sinais de crise econômica ou editorial e, a cada dia, emagrecem a olhos vistos, deixando a impressão de que não há notícias recentes, além daquelas que englobem a mercadológica e lucrativa indústria da cultura de massa.

Nada contra o esporte, o qual considero umas das melhores e mais saudáveis formas de inclusão social, mas se há verbas e profissionais disponíveis para os cadernos esportivos, para os luxuosos e coloridos encartes sobre atores, novelas e personalidades do meio televisivo, se há disponibilidade de espaço para as picuinhas amorosas de atores e atrizes, porque será que falta espaço tempo e dinheiro para falar de arte e de cultura? Será falta de patrocinador? Será falta de público consumidor? Ou será a tal da falta de vontade para com o que não trará lucro imediato? Perguntas sem resposta!

Para ilustrar o que foi dito nos parágrafos anteriores, relembro alguns fatos recentes. Horas depois da já tradicional premiação de “Atletas do Ano”, o Caderno de Esportes fazia uma síntese do acontecimento, detalhando a atuação de cada um dos ganhadores e com direito a um pôster que ocupava as páginas centrais do encarte. Semanas antes e um dia após a referida festa esportiva, houve a III Feira do Livro de São Luís e dois lançamentos coletivos das obras vencedoras do Concurso Literário Gonçalves Dias. Sinceramente não me lembro de ter encontrado em nossos jornais um destaque significativo para tais eventos. Não me recordo de ter visto uma cobertura aprofundada a respeito dos participantes da Feira ou dos lançamentos, nem mesmo de ter visto a fotos dos palestrantes ilustrando artigos relativos ao assunto.

Alguém poderia argumentar que os escritores reunidos não tinham renome nacional, que poucos eram conhecidos além dos limites da província natal. Mas essa ideia esbarra na constatação de que os atletas que tiveram ampla cobertura, com direito até a cupons para votação durante dias e dias, também não são conhecidos da maioria do público leitor dos jornais. Indicados por suas respectivas federações, alguns guerreiros do esporte saíram da premiação sobraçando o troféu, mas ainda continuavam e continuam com seus feitos praticamente desconhecidos até mesmo quem preencheu o formulário de votação sem ter noção sobre as reais habilidades dos concorrentes. Mesmo assim, auditório estava lotado, para o bem do esporte.

Por outro lado, na segunda parte do lançamento do Plano Editorial da SECMA, realizado no Museu Histórico e Artístico, mesmo com a presença da “nata intelectual”, como assinalou o Secretário Luís Bulcão, e de autoridades políticas, o público não foi suficiente para lotar o recinto. Também não me lembro de ter visto os escritores perfilados para uma foto oficial que fosse ilustrar as páginas centrais de um caderno cultural dos próximos dias.

Mas o importante é sempre ter em mente que Esporte e Cultura são essenciais para a formação de um povo e que, com ou sem divulgação, continuarão seus caminhos em busca da divulgação de seus valores.

OBS: É importante destaca o esforço do editor e escritor Alberico Carneiro, que em seu suplemento, tenta resenhar as obras publicadas nos eventos literários de nossa cidade.

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