quinta-feira, 8 de outubro de 2009

DATA SHOW


E COM A PALAVRA... O DATA SHOW!

José Neres



A cena pode ser facilmente imaginada. Um auditório lotado. Uma plateia sedenta de informações. O(a) palestrante, geralmente muito bem vestido(a), com um cd ou um pen-drive nas mãos, se aproxima do responsável pelo equipamento de informática. Sorri para alguns conhecidos ocupantes das primeiras filas. Acena para outros que estão sentados um pouco mais distante. De repente, uma informação turva todo o semblante do(a) palestrante: a mídia passada por ele não abriu. Seu arquivo eletrônico tão cuidadosamente elaborado durante horas está comprometido. O que fazer?
Algumas pessoas, diante de tal situação, abrem um belo sorriso e enfrentam o púbico usando o carisma, a voz, o verbo e os conhecimentos adquiridos ao longo de muitos momentos de estudo. Outros, por sua vez, empalidecem e não conseguem nem mesmo sair do lugar. A vista fica turva, a boca parece seca e o mundo começa a girarem sua cabeça. Não haverá possibilidade de haver a palestra. Todo o conteúdo está devidamente arquivado naquela mídia que teima em não abrir. Nem os arquivos, nem a memória funcionam. Tudo acabado. A palestra termina mesmo antes de começar.
A cena acima ilustra muito bem a dependência de algumas pessoas com relação à tecnologia. Há alguns anos, os professores aprendiam nos cursos de licenciatura como utilizar recursos didáticos que, na época, eram bastante avançados, como, por exemplo, álbum seriado, cartazes, mimeógrafos e, em casos extremos, gravadores, videocassete e retroprojetor. Nem se falava ainda em tecnologias que hoje são tão comuns, como laptops, sons digitais, internet e data show, recursos que, sem dúvida, revolucionaram as técnicas de ensino-aprendizagem, mas que também trouxeram alguns vícios para as pessoas que começaram a confiar cegamente na tecnologia como forma de substituir o conhecimento humano.
Em alguns casos, o professor/palestrante nem mesmo se preocupa em estudar o assunto, pois tudo estará escrito nos slides, bastando, portanto, apenas ler o que aparece na iluminada tela com suas letrinhas coloridas e suas imagens animadas. Em um simples clique, até mesmo a pessoa menos habilitada no assunto se sente confiante para enfrentar uma plateia.mas o problema é que imprevistos acontecem, , e nem sempre os recursos esperados estão disponíveis. Nesses casos, quem realmente está preparado para os debates não se preocupa com possíveis falhas tecnológicas.
Quando sua utilização não se torna uma forma de esconder desconhecimentos, o data show é uma ferramenta que pode prestar inúmeros bons serviços à educação e às apresentações em geral. Mas se for utilizado como se fosse apenas uma tela para transcrever textos que serão lidos para o público ou alunos – e às vezes lidos muito mal – seu uso estará fatalmente condenado ao fracasso.
Algumas pessoas estão tão dependentes da tecnologia que, no início de algumas exposições e palestras de pessoas tão inseguras, o mestre de cerimônias poderia, no lugar de dizer o nome do convidado anunciar da seguinte maneira: “Senhoras e senhores, com a palavra o data show!”

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