domingo, 25 de outubro de 2009

7ª SALIMP


LIVROS EM FESTA NO SALÃO

José Neres



O grande poeta Castro Alves dizia em um de seus poemas que “bendito é o que semeia livros, livros à mão cheia e manda o povo pensar...” E ele tinha razão. Semear livros é uma das formas mais eficientes de transformar o árido solo da ignorância em um fértil terreno de cultivo da Palavra e das ideias. Durante muito tempo, investir em livros era atitude de pessoas muito ricas ou de quem tivesse muito tempo a perder. Hoje, felizmente, isso está mudando e investir em cultura deixou de ser um ônus para tornar-se alavanca para o progresso.

Tendo como uma das finalidades o fomento à semeadura da palavra escrita para um povo que não estava acostumado a manusear livros, surgem as chamadas feiras de livros, que, muito mais que um comércio de obras, tornaram-se, aos poucos, ponto de encontro de intelectuais e oportunidade de aparecimento de novos talentos.

O Maranhão, estado conhecido pelo seu apego às questões literárias, ficou, por razões diversas, alheio essa valorosa contribuição cultural que pode ser dada pelas feiras e encontros voltados para a circulação dos livros, nos últimos anos tem despertado para esse nicho que estava esquecido, mas que apresenta boas perspectivas de crescimento. Hoje, já podemos contar com eventos do nível do Festival Geia de Literatura, que reúne anualmente, em São José de Ribamar, milhares de pessoas dispostas a manterem um contato mais próximo com os escritores maranhenses; a Feira do Livro de São Luís, que logo em suas duas primeiras edições se solidificou como um dos grandes eventos literários do País; e a Salimp, o Salão do Livro de Imperatriz, que, em sua sétima edição, deixa bem claro que nada deixa a dever para os demais eventos nacionais.

Organizada pela Academia Imperatrizense de Letras, em parceria com os governos municipal e estadual, a Salimp traz para os cidadãos de Imperatriz e para os visitantes a oportunidade de entrar em contato com escritores de renome nacional e, ao mesmo tempo, tomar conhecimento do que é produzido pelos intelectuais locais. O público teve a oportunidade de ver reunidas, em um mesmo local, personalidades como Nauro Machado, Sebastião Moreira Duarte, Edmilson Sanches, Agostinho Noleto Arlete Nogueira, Arnaldo Monteiro, Weliton Carvalho e Adalberto Franklin, escritores que já têm um a história no campo das letras, ao lado de uma geração mais jovem que começa a escrever seu nome em um possível panteon ainda a ser formado e solidificado, como é o caso de Ariston de França, Allanna Sanches, Ricardo Caval, Phellipe Duarte e outros jovens escritores que lançaram suas obras durante o evento.

Como o papel do Salão é também o de inocular no corpo e na alma dos mais jovens o gosto pela leitura e despertar o interesse pelo livro, os colégios também contribuíram levando estudantes das mais diversas faixas etárias para um passeio pelos corredores repletos de obras, de palavras, e de sonhos. É sempre interessante ver auma filinha de meninos e meninas, devidamente monitorados por seus professores, circulando entres os stands e arregalando os olhos a cada descoberta de um mundo de tinta e de papel. Certamente o contato mais efetivo com os livros, com leitores e com os escritores deixará marcas positivas na cabeça dessas crianças que, em breve, estarão também produzindo seus textos artísticos.

Outro detalhe interessante da 7ª Salimp foi a transmissão ao vivo de palestras e lançamentos de livros pela rede mundial de computadores. Com isso, quem estava impossibilitado de comparecer ao Centro de Convenções de Imperatriz, poderia acompanhar as falas dos palestrantes em qualquer lugar do mundo, o que serviu como elemento essencial para a divulgação do evento além das limitações do espaço.

Então, se semear livros e informações é motivo para bendizer alguém, Imperatriz, seu povo e os organizadores do Salão do Livro estão de parabéns e merecem todos o parabéns, pela valorização da leitura. Esperemos também que a oitava edição seja ainda melhor e com um público ainda mais ávido de informações

sábado, 17 de outubro de 2009

SUGESTÕES DE LEITURA

CINCO OBRAS ESSENCIAIS

José Neres

(O Estado do Maranhão, 17 de outubro de 2009)

No Maranhão há, apesar das precárias condições de divulgação e de um quase inexistente sistema de distribuição, uma boa quantidade de obras publicadas anualmente. Além da produção de trabalhos de cunho poético ou ficcional, temos também autores que se dedicam às pesquisas e que aquecem nosso combalido mercado editorial com livros que em muito contribuem para a formação intelectual das gerações vindouras e para aplacar a curiosidade intelectual de quem se dedica a garimpar estudos de qualidade nas estantes de sebos e livrarias.

Infelizmente, nem todas as obras recebem o destaque merecido e algumas acabam caindo no ostracismo. Destacamos a seguir cinco livros que foram lançados nos últimos anos e que formam um paideuma indispensável a quem se dedique aos estudos das letras maranhenses. Todas são obras que ainda podem ser encontradas à venda e que em muito podem contribuir para a compreensão de nossas letras.

1. Dicionário Histórico e Geográfico do Maranhão, de César Augusto Marques – na primorosa edição de Jomar Moraes – Na condição de editor, Jomar Moraes poderia simplesmente reeditar o livro, mas o inquieto espírito do pesquisador foi muito além e não só corrigiu alguns detalhes das edições anteriores, como também ampliou verbetes e atualizou dados, aumentando em muito o valor documental da obra.

2. O Senhor Antônio Lobo: A Fogueira da Agonia, de Carlos Gaspar – Antônio Lobo é um dos mais importantes intelectuais maranhenses das primeiras décadas do século XX e um dos principais nomes de nossa produção intelectual em todos os tempos. No entanto, essa importância há muito tempo ao s traduzia em forma de um trabalho de grande monta que resgatasse a polêmica e instigante figura do homem que até hoje é sinônimo da Academia Maranhense de Letras. Carlos Gaspar, em um livro muito bem escrito e fartamente documentado, traz novamente à luz a vida e a obra de um pensador que sempre merece ser lembrado.

3. Memória do Teatro Maranhense, de Aldo Leite – O teatro maranhense há muito tempo carecia de um trabalho que resgatasse um pouco de sua história. O professor, dramaturgo e ator Aldo Leite se encarregou de dar uma substancial ajuda para os amantes das artes cênicas ao reunir em um livro momentos importantes da dramaturgia maranhense e entrevista com alguns dos mais significativos nomes do teatro maranhense contemporâneo. O livro, que além de um texto fluido, apresenta também grande riqueza iconográfica é, sem dúvida, uma obra indispensável para todos aqueles que queiram compreender os meandros de nossa produção teatral.

4. Operários da Saudade: Os Novos Atenienses e a Invenção do Maranhão, de Manoel Martins Barros – Nesse livro, o autor, mesclando rigor histórico com sensibilidade artística, destrinça para os leitores os bastidores de um momento em que os valores literários maranhenses que não saíram da província ficaram eclipsados pelos importantes nomes que fizeram carreira em outros estados. O autor, usando com maestria os títulos dos principais livros da época estudada, esclarece muitas duvidas a respeito de escritores que, apesar de talentosos, ficaram esquecidos até mesmo na própria província de origem.

5. Memórias e Memórias Inacabadas, de Humberto de Campos – Recentemente reeditado pelo Instituto Geia, o livro de memórias do grande cronista maranhense há muito tempo pedia para voltar às mãos dos leitores. Ao contrário do que se pode pensar em um primeiro contato com o título da obra, não se trata de um livro de um homem que olha para si mesmo e se esquece do mundo ao seu redor. Em verdade, o que é uma abordagem bastante crítica e pessoal de uma época, ressaltando importantes traços das pessoas e do modo de viver do final do século XIX e início do século XX.

Muitos outros livros poderiam ser citados como também essenciais para a (re)descoberta das letras e dos valores culturais do Maranhão, contudo, infelizmente algumas importantes obras estão fora de edição e outras não estão disponíveis no mercado. Mas o importante é que, mesmo com as dificuldades encontradas, a cada ano o número de obras destinadas aos estudos da cultura e da literatura maranhenses cresça.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

ANTÔNIO AILTON

Apesar de ter saído no jornal com o nome de outra pessoa, o este artigo é de minha autoria...


PERAMBULANDO PELAS HABITAÇÕES

José Neres

A geração poética de 90 legou à literatura maranhense grandes nomes que agora, quase no final da primeira década do século XXI, começam a amadurecer seus frutos. Claro que nessa caminhada de quase vinte anos alguns escritores se perderam ou desistiram de continuar na luta com as palavras escritas. Outros, no entanto, apesar de alguns tropeços e percalços, continuaram suas jornadas e começaram a solidificar suas obras e tentam eternizar seus nomes no rol dos talentos maranhenses.

Entre os que não desistiram diante dos obstáculos de publicação, divulgação e promoção de seus trabalhos está o poeta e ensaísta Antônio Aílton, um escritor várias vezes laureado em concursos e que publicou “As Habitações do Minotauro” (2000) e “Humanologia do Eterno Empenho: conflito e movimento trágicos em A Travessia do Ródano de Nauro Machado” e que, após conquistar o prêmio Eugênio Coimbra Júnior, promovido pela Fundação de Cultura da Cidade de Recife, publica também “Os Dias Perambulados e outros Tortos Girassóis” (2008).

O fato de dividir-se entre a criação poética e a crítica ensaística, que poderia trazer problemas para uma pessoa com poucos recursos intelectuais e argumentativos, transformou-se, para Antônio Ailton, numa espécie de arma contra as mesmices literárias. Suas constantes leituras transparecem nas páginas de seus textos e imprimem em cada verso uma dicção própria de quem tem total consciência de seu fazer poético e das conseqüências das palavras impressas no papel. Seus versos não perseguem o lirismo fácil e banal, pelo contrário, estão sempre em busca do inusitado e do aparentemente indizível. Seus poemas não claudicam diante dos obstáculos e seguem em marcha, ora mais lenta, ora mais acelerada, rumo a soluções poéticas que vão além das rimas e da metrificação.

Tendo como amarras o ritmo cadenciado imposto por cada situação e a temática a ser desenvolvida, o eu lírico de Antônio Ailton age como um flâneur vagando em busca de algo desconhecido até para ele mesmo. Nos seus livros, o poeta não pretende encontrar soluções mágicas para os inúmeros problemas do mundo, nem mesmo busca entender ou explicar o que se passa no entorno de suas angústias e observações. Contudo, é exatamente desse constante observar da realidade que o poeta, como um voyeur consciente de que pode perder a visão a qualquer instante, retira a matéria bruta que será lapidada em forma de poema.

Tanto em “As Habitações do Minotauro” quanto em “Os Dias Perambulados e Outros Tortos Girassóis”, tudo parece estranho para o leitor, no entanto, cada verso traz também a sensação do dèja vu, não pelas questões intertextuais que permeiam os versos, mas sim pela certeza de que cada poema, cada estrofe e cada verso falam das dúvidas, da realidade e dos anseios do homem em geral. Os textos rápidos não dão tempo para o leitor respirar e o sufocam cada tentativa de tomar fôlego.

Em suma, os poemas de Antônio Ailton não são feitos para serem lidos por quem busque apenas lirismo e formas bem comportadas, mas sim por quem tenha coragem de perambular por um labirinto de sensações e de palavras e de onde, às vezes, a única saída é enfrentar algumas verdades para as quais fechamos os olhos no nosso dia a dia.


quinta-feira, 8 de outubro de 2009

DATA SHOW


E COM A PALAVRA... O DATA SHOW!

José Neres



A cena pode ser facilmente imaginada. Um auditório lotado. Uma plateia sedenta de informações. O(a) palestrante, geralmente muito bem vestido(a), com um cd ou um pen-drive nas mãos, se aproxima do responsável pelo equipamento de informática. Sorri para alguns conhecidos ocupantes das primeiras filas. Acena para outros que estão sentados um pouco mais distante. De repente, uma informação turva todo o semblante do(a) palestrante: a mídia passada por ele não abriu. Seu arquivo eletrônico tão cuidadosamente elaborado durante horas está comprometido. O que fazer?
Algumas pessoas, diante de tal situação, abrem um belo sorriso e enfrentam o púbico usando o carisma, a voz, o verbo e os conhecimentos adquiridos ao longo de muitos momentos de estudo. Outros, por sua vez, empalidecem e não conseguem nem mesmo sair do lugar. A vista fica turva, a boca parece seca e o mundo começa a girarem sua cabeça. Não haverá possibilidade de haver a palestra. Todo o conteúdo está devidamente arquivado naquela mídia que teima em não abrir. Nem os arquivos, nem a memória funcionam. Tudo acabado. A palestra termina mesmo antes de começar.
A cena acima ilustra muito bem a dependência de algumas pessoas com relação à tecnologia. Há alguns anos, os professores aprendiam nos cursos de licenciatura como utilizar recursos didáticos que, na época, eram bastante avançados, como, por exemplo, álbum seriado, cartazes, mimeógrafos e, em casos extremos, gravadores, videocassete e retroprojetor. Nem se falava ainda em tecnologias que hoje são tão comuns, como laptops, sons digitais, internet e data show, recursos que, sem dúvida, revolucionaram as técnicas de ensino-aprendizagem, mas que também trouxeram alguns vícios para as pessoas que começaram a confiar cegamente na tecnologia como forma de substituir o conhecimento humano.
Em alguns casos, o professor/palestrante nem mesmo se preocupa em estudar o assunto, pois tudo estará escrito nos slides, bastando, portanto, apenas ler o que aparece na iluminada tela com suas letrinhas coloridas e suas imagens animadas. Em um simples clique, até mesmo a pessoa menos habilitada no assunto se sente confiante para enfrentar uma plateia.mas o problema é que imprevistos acontecem, , e nem sempre os recursos esperados estão disponíveis. Nesses casos, quem realmente está preparado para os debates não se preocupa com possíveis falhas tecnológicas.
Quando sua utilização não se torna uma forma de esconder desconhecimentos, o data show é uma ferramenta que pode prestar inúmeros bons serviços à educação e às apresentações em geral. Mas se for utilizado como se fosse apenas uma tela para transcrever textos que serão lidos para o público ou alunos – e às vezes lidos muito mal – seu uso estará fatalmente condenado ao fracasso.
Algumas pessoas estão tão dependentes da tecnologia que, no início de algumas exposições e palestras de pessoas tão inseguras, o mestre de cerimônias poderia, no lugar de dizer o nome do convidado anunciar da seguinte maneira: “Senhoras e senhores, com a palavra o data show!”

domingo, 4 de outubro de 2009

O SILÊNCIO DE MERCEDES


Cala-se uma potente Voz. Mercedes Sosa, uma das maiores intérpretes que a América Latina viu crescer e desabrochar se calou definivamente neste domingo, dia 04 de outubro de 2009. Mas o som de sua voz ecoará eternamente em suas fantásticas interpretações, como em "Volver a los 17", ou "Gracias a la vida", dois clássicos que sempre nops levaram a refletir sobre a vida e a morte. é hora de seus admiradores também darem cracias a la vida, por nos ter dado Marcedes Sosa.