quarta-feira, 29 de abril de 2009

terça-feira, 21 de abril de 2009

LEITURA LEITURA E LEITURA


LEITURA COM CASTIGO

José Neres



É, infelizmente, uma constante em algumas escolas, quando um aluno, ou mesmo uma turma inteira, não se comporta de acordo com os ditames da instituição, que professores, coordenadores e até mesmo membros do corpo diretivo imponham uma penalidade a quem não esteja encaixado nas normas pré-estabelecidas.


As sanções são as mais variadas e vão desde advertências verbais até a expulsão sumária, passando por outras medidas corriqueiras, como exclusão do aluno da sala de aula, suspensão por determinado período ou até, por mais absurdo que pareça, castigos físicos. Contudo uma das punições mais corriqueiras e aparentemente sem grandes proporções é a que mais chama a atenção, por sua discutível aplicabilidade como método educativo: obrigar o educando a ler um livro ou a escrever uma redação como forma de castigo.


Ora, um dos papéis dos educadores, em todos os níveis de ensino e fomentar nos alunos a ideia de que ler é uma espécie de passaporte para a independência intelectual. Quando alguém é alfabetizado e consegue sair do simples decifrar de palavras para alcançar a dimensão do entendimento global dos textos e da realidade circundante, adquire uma poderosa ferramenta capaz de fazer da pessoa um cidadão mais cônscio de seus direitos e deveres. A produção escrita, por sua vez se transforma em um excelente mecanismo de divulgação das próprias ideias, seja para um grupo restrito, como na produção de cartas e pequenos documentos, seja para um público mais amplo, como ocorre nos escritos de cunho científico ou artístico ou ainda na divulgação de textos via internet.


Mas, impondo a leitura e a escrita com forma de castigo, qual a mensagem subliminar que a instituição escolar passa para seus educando? Agindo dessa forma, qual o incentivo que a escola deixa para o estudante que passa a ver nas palavras escritas um grande inimigo e não um aliado que irá acompanhá-lo ao longo de toda uma vida? Quantos alunos se sentirão inteiramente à vontade com um livro nas mãos enquanto as imagens de castigos antigos e recentes ainda fazem parte de suas mais traumáticas lembranças?


A escola, bem como a família e a sociedade em geral, têm a obrigação de fazer o possível e até o impossível para transformar meros frequentadores de aulas em leitores proficientes e capazes. Não pode ser negado ao educando o direito de caminhar com as próprias pernas e de seguir pelas tortuosas estradas da vida guiado pelo mapa das palavras escritas, com caminhos iluminados pelo farol do conhecimento adquirido após anos de estudos sistemáticos e pavimentados ao prazer das leituras escolhidas pelo próprio indivíduo, quando a passagem pelas salas de aula tiver se tornado uma doce lembrança dos bons tempos de aprendizado.


A leitura e a escrita devem virar fonte de aprendizagem e de prazer. Cada página deve ser devorada com a ânsia de saber o que virá a seguir. Casa palavra escrita deve trazer a essência de quem muito transpirou para transformar ideia, conhecimento e emoções em palavras que traduzam o que o autor sente ou sentiu. Claro que o papel da escola não é o de transformar todos em grandes escritores, mas nada impede que ela ofereça a todos os instrumentos necessários para o aluno pelo menos sonhar com isso.


No entanto, enquanto perdurar a concepção arcaica de que é possível castigar um aluno pondo a sua frente um livro para ser lido ou uma folha de papel em branco da qual sairá um texto, a educação com finalidade qualitativa e não apenas quantitativa estará sempre prejudicada e todos nós sairemos dessa árdua batalha pelo sucesso educacional como grandes perdedores.

domingo, 19 de abril de 2009

O DESEJADO




O desejado

José Neres


A meu amigo

e grande ator

Júlio César


A obsessão de um fazendeiro em encontrar um boi encantado e as consequências que podem advir de uma série de atos insanos servem de mote para a peça teatral O DESEJADO, que esteve em cartaz em nossa cidade neste fim de semana.

Com texto, muito bem adaptado, da obra do piauiense Francisco Pereira da Silva e uma direção segura e competente do conhecido ator César Boaes, a peça bafeja ares das grandes tragédias gregas e levanta questões que vão muito além de uma leitura superficial. O diretor e os atores foram felizes na simplicidade do cenário – uma boa amostra de que talento e criatividade podem suplantar possíveis dificuldades financeiras – e demonstraram segurança nas falas, com pouquíssimos momentos de vacilo, contudo, mesmo nesses raros momentos em que o texto pareceu engasgado na garganta ou na memória, todos souberam se portar com grande maestria.

Quem separou um espaço na agenda neste fim de semana para ir ao teatro certamente não se arrependeu e, sem dúvida, se divertiu e se emocionou bastante com a saga do patriarca que destroi bens e família em busca de uma quimera em forma de um temível boi bravo.

Para completar o espetáculo, a leveza da representação e as sutilezas cênicas foram trabalhadas de forma séria e lírica ao mesmo tempo, sem perder o foco do texto original e mesclando com equilíbrio os momentos trágicos e os cômicos.

Finalmente, como é bom ver pessoas de todas as idades no teatro em um finalzinho de domingo! Como é bom ver crianças, jovens, adultos e idosos lado a lado aplaudindo com as mãos e com o coração nossos talentosos atores e nosso inspirado diretor.

Aplauso a todos. Ao público pela escolha... e aos artistas, por oferecerem aos presentes um espetáculo de qualidade. Aplausos, aplausos, aplausos...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

MESTRE ANTÔNIO VIEIRA


VIEIRA: UMA VOZ, UM SILÊNCIO
José Neres



Fim de tarde. O Centro Histórico de São Luís começa a mudar de feição. Aos poucos, saem de cena os apressados homens de negócio e começam a desfilar pelas estreitas calçadas pessoas que aproveitam os últimos raios de sol para por a conversa em dia, sem preocupação com o correr dos ponteiros do relógio ou com as incertezas do amanhã. Nessa pequena multidão de amantes do por-de-sol do Centro Histórico há homens comuns, mulheres comuns, estudantes, poetas, desocupados e tantas outras pessoas. Mas um frequentador daquele ambiente de pura nostalgia poética chamava a atenção: um homem magro, negro, firme e singelo como sua própria história de vida carregava rumo à Banca do Dácio seu sorriso, seus “causos”, sua música e sua poesia. Seu nome era – e será para sempre – Antônio Vieira...

Mas não era apenas mais um Antônio ou mais um Vieira cercado de gente em uma praça que respira lembranças “dores e saudades”, era, sim, o Mestre Antônio Vieira, um homem que soube transformar palavras simples em versos carregados de poesia e de musicalidade. Talvez nem todos os transeuntes e freqüentadores habituais da Praia Grande tenham aproveitado a presença daquele homem que guardava em sua memória quase nove décadas de experiência, de alegrias e de atribulações, mas que geralmente guardava para si os momentos difíceis, para dividir com os amigos, companheiros ou meramente conhecidos a lucidez de seu sorriso tímido e generoso.

Como todo bom artista popular, Antônio Vieira tirava do cotidiano, de sua própria vivência de mundo e de situações aparentemente banais o motivo para suas composições. Como uma espécie de Midas pouco interessado em ouro, mas ávido de acordes e de musicalidade, o compositor maranhense transformava em versos, sons e ritmo aquilo que para pessoas comuns podia ser apenas mais um acontecimento. Desse modo, uma garota de cabelos crespos que manda alisá-los para depois pô-los no rolo se transformou no antológico “Na cabecinha da Dora”, uma receita caseira para melhorar o ânimo e ao mesmo tempo perfumar o corpo aparece na forma de “Banho Cheiroso” e os conselhos para um amigo que andava triste sem saber o que fazer da vida se metamorfosearam no conhecidíssimo “Tem quem queira”, a mais conhecida das músicas do saudoso Mestre.

Ao longo de aproximadamente setenta anos de vida artística, Vieira compôs mais de trezentas músicas, escreveu um livro de contos, cantou em parceria com diversos grandes nomes da MPB e da MPM, foi homenageado e reverenciado por inúmeras personalidades, mas, em sua simplicidade de homem do povo, não tentava esconder os percalços por que passou até ter seu nome projetado nos palcos do Brasil.

Pode-se ler, ouvir ou cantar a obra de Antônio Vieira por simples diversão ou para assimilar um pouco da espirituosidade de um homem que não teve vergonha de dizer que cometeu muitos erros, como pode ser visto em “A Pedra Rolou”, na qual, em tom confessional, ele declara: “eu também rolei no tempo / e ele muito me ensinou / o mundo rola no espaço / e também muito melhorou / e eu fui rolando com ele / e ele me desarestou”. Em outra música, como máximo de sua simplicidade vestida com a túnica da picardia, desejava transformar-se em uma cocada para adoçar a boca de “mulatas e loiras / morenas e negras”.

Hoje aquela cadeirinha da Banca do Dácio está vazia. O velho poeta já não conta seus infinitos “causos”. Quem pôde aproveitar alguns momentos da companhia do Mestre há de guardar na lembrança para sempre aquele sorriso meigo e aquela imagem de quem tanto demonstrou amor pela música e por sua terra natal. A pedra rolou, o tempo passou, Mestre Antônio Vieira Morreu, mas sua música ficou. Ficou nos Cds, na TV, em nossos ouvidos e até no silêncio da despedida.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

UM ARTIGO SOBRE MEU TRABALHO


É sempre bom tratar com pessoas inteligentes e estudiosas. Recentemente, a convite de minha estimada colega e amiga Honorina Carneiro, fui ministrar um curso de História Literária. Chegando ao local, deparei-me com algumas pessoas com quem havia perdido o contato e com outras com as quais o contato se iniciaria naquele exato momento. nesse último grupo estava a professora Iole Cutrim, que, como deve acontecer com todos os profissionais que se prezam, estava inscrita no curso para aprimorar seus conhecimentos.

Boa leitora e dona de um um bom cabedal de leitura, Iole colaborou ativamente com cada momento da disciplina e, ao final, quando foi pedido o último trabalho, resolveu escrever sobre minha modesta criação literária. repoduzo aqui, com todos os agradecimentos possível o texto de Iole Cutrim, um bom exemplo de sagacidade e acuidade leitora.


ACERTANDO AS CONTAS
Iole Cutrim Costa
(Professora da Rede Estadual de Ensino/Pós-Graduanda em Língua portuguesa e Literatura Brasileira pelo IESF)



Todas as vezes que temos necessidade de expor nossa opinião sobre qualquer assunto temos muitas dificuldades, mas quando vamos falar do que gostamos de verdade somos exagerados e nem um pouco modestos.Por isso falar de um escritor de que gosto na atualidade me faz ficar inundada de emoção, resolvi então desenvolver o meu trabalho em cinco tópicos:

Nunca tinha vivido uma experiência tão inusitada como esta de ser aluna de um escritor, por isso quando ele pediu que fizéssemos um trabalho para fechar a disciplina resolvi falar sobre ele, um Homem/Escritor ou um Escritor/Homem,é difícil separar um do outro, assim como é difícil fazer uma única análise de suas obras. Em 50 pequenas traições, por exemplo ele usa o humor para tratar das questões que envolvem os relacionamentos, por isso o leitor tem emoções diversas ao ler as abordagens feitas por ele,sem contar que a brevidade dos textos possibilita uma leitura agradável.


Então o que falar do estilo do meu agora escritor predileto: acho que ele é intenso quando escreve crônicas, poesias ou simplesmente retoma temas abordados ao longo dos anos na literatura, ou ainda dizer que dos Restos de Vidas Perdidas, dos Epigramas de Artur, com pitadas de 50 Pequenas traições, ou ainda relatos de um Montello: o Benjamim da Academia”,são textos e pretextos que traduzem a essência de um escritor Maranhense que deixa sua marca nos anais da literatura e prende a atenção daqueles que tem a sorte de ler seus escritos.


Realmente estou impressionada com acabei de ler, Os Epigramas de Artur e me veio à mente o seguinte pensamento: é uma obra Dinoneriana ou Neresdiniana,adorei os comentários dos Epigramas, preciso agora ler Estratégias para Matar um Leitor em Formação, com certeza em mim terá o efeito contrário.


Espero que em um futuro próximo a arte de escrever seja valorizada e que um escritor seja reconhecido em vida, afinal escrever não é nada fácil,ainda mais quando se desnuda os sentimentos ocultos e somos desmascarados,pois dentro de cada um de nós existem desejos que teimamos esconder-se. O livro Restos de Vidas Perdidas não poderia ter outro nome pois o autor ironicamente antes de cada crônica noticiada, escreve fragmentos de leis, salmos e dizeres que deveriam sair do papel e postos em prática. Os temas lidos no sumário nos dão a falsa idéia de que leremos algo singelo,entretanto, quando folheamos o Álbum de Recortes e desamarramos Os Laços de Família temos sede de Um Acerto de Contas, sem arrependimentos, sentimos o Inebriante Cheiro de Cola, que esconde o bom moço, Entre Paredes, da loucura, que deixa A marca de um beijos como a Vingança de uma Crônica de um futuro anunciado.

domingo, 5 de abril de 2009